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sábado, 10 de setembro de 2011

H.P.Lovecraft-Dagon




   “Dagon” 
Por: H.P. Lovecraft

Introdução

O conto    “Dagon” foi escrito em 1917, quando Lovecraft estimulado por amigos resolve retomar
seus trabalhos de ficção. Este conto é intimamente ligado a  “The Shadow Over Innsmouth” que ele
veio há escrever 14 anos depois. Este último conto trata de um rapaz que vai a assombrada e deserta
vila de pescadores de Innsmouth investigar e descobre que seus moradores tem estranhas relações
com os deep ones, anfíbios humanóides que imitem um repugnante odor de peixe e se comunicam
com humanos através dos sonhos. Há anos atrás a cidade fora tomada por influências de forasteiros
que trouxeram a adoração de Dagon e a maldição ao lugar. Os humanos cada vez mais assumiam
formas de peixe até estarem prontos para entrar na cidade ciclópica submersa de Dagon de nome
Y’há-nthlei. Na vila os estranhos são mortos cruelmente e as mulheres oferecidas ao deus maligno
para satisfazer e carregar o fruto da cruel criatura. Tais histórias de fundo marítimo parecem revelar
forte influência do escritor inglês William Hope Hodgson (1877 - 1918)  e suas histórias fantástica
tendo   o   mar   como   ambientação.   “Dagon”   foi   filmado   em   2001   pelo   diretor   Stuart   Gordon,   se baseando principalmente no conto sobre a vila de Innsmouth e tido por fãs de Lovecraft ao redor do mundo como o filme mais completo e bem feito sobre suas histórias.

                                                     DAGON

     SCREVO ISSO DEBAIXO de uma tensão mental considerável já que esta noite poderei não
Eestar mais vivo. Se um centavo e no final de meu suprimento da droga que, só ela, consegue
tornar minha vida tolerável, já não consigo suportar a tortura e irei atirar-me dessa janela de sótão
na rua esquálida lá em baixo. Não pensem que minha dependência da morfina tenha-me tornado um
fraco ou degenerado. Quando houverem lido estas páginas rabiscadas às pressas, poderão imaginar,
mesmo sem nunca perceber plenamente, por que preciso do olvido ou da morte.
         Foi   num  dos   trechos   mais   abertos   e   pouco   freqüentados   do   vasto   Pacífico   que   o   paquete
onde eu era comissário de bordo foi capturado pelo vaso de guerra alemão. A grande guerra estava,
então, em seu início, e as forças marítimas do bárbaro ainda não haviam mergulhado por completo
em   sua   posterior   degradação.   Sendo   assim,   nossa   embarcação   foi   tomada   como   legítima   presa,
enquanto nós, membros de sua tripulação, fomos tratados com toda a equidade e consideração que
nos eram devidas como prisioneiros navais. Era tão liberal, de fato, a disciplina de nossos captores,
que   cinco   dias   depois   de  nos   tomarem,  consegui   escapar,  sozinho,   num  pequeno   barco   equipado
com água e provisões para muito tempo.
         Quando enfim me vi livre e à deriva, não tinha muita noção de minha localização. Como
nunca havia sido um navegador experiente, eu só podia imaginar, vagamente, pelo sol e as estrelas,
que   estava   um  pouco   ao   sul   do   Equador.   Da   latitude   eu   nada   sabia,   e   não   havia   ilha   nem  linha
costeira à vista. O tempo manteve-se firme e durante dias sem conta eu vaguei sem destino debaixo
de um sol escaldante, esperando a passagem de algum navio ou ser atirado às praias de alguma terra
inabitável. Mas não surgiu navio nem terra e comecei a me desesperar em minha solidão sobre a
ondulante vastidão de interminável azul.
         A   mudança   aconteceu   enquanto   eu dormia. Seus detalhes eu jamais saberei, pois, embora
agitado e povoado de sonhos, tive um sono contínuo. Quando afinal despertei, descobri-me meio
tragado   pela   extensão   lamacenta   de   um   infernal   lodo   negro   que   se   estendia   à   minha   volta   em
monótonas  ondulações até onde minha vista alcançava  e onde, a certa distância, estava  enterrado
meu barco.

                                     
         Embora se possa perfeitamente imaginar que minha primeira sensação seria de espanto com
uma transformação tão prodigiosa e inesperada de cenário, eu, na verdade, fiquei mais horrorizado
do que espantado, pois havia no  ar e no solo putrefato um caráter sinistro que me arrepiou até o
âmago de meu ser. A região toda fedia com as carcaças de peixes apodrecidos e outras coisas menos
descritíveis   que   eu   vi   projetadas  da  lama  abjeta   da   interminável   planície.   Talvez   eu   não   devesse
esperar transmitir em meras palavras a indizível repugnância que pode existir num silêncio absoluto
e   numa   imensidão   estéril.   Não   havia   nada   ao   alcance   do   ouvido   e   da   visão,   salvo   uma   vasta
extensão   de   lodo   preto,   mas   ainda   assim   o   caráter   absoluto   do   silêncio   e   a   homogeneidade   da
paisagem me oprimiram com um medo nauseante.
         O sol ardia no alto de um céu sem nuvens que me parecia quase negro em sua impiedade,
com se refletisse o pântano escuro que tinha embaixo de meus pés. Arrastando-me para dentro do
barco encalhado, percebi que apenas uma teoria poderia explicar minha situação: por algum tipo de
erupção     vulcânica     sem   precedentes,     parte   do  leito  do   oceano     devia   ter  sido  impelida     para   a
superfície, expondo regiões que durante incontáveis milhões de anos ficaram submersas debaixo de
profundezas   aquáticas   imensuráveis.   Era   tão   grande  a   extensão   da   nova   terra   que   se   elevava   por
baixo   de   mim,   que   não   consegui   captar   o   mais   tênue   ruído   do   oceano,   por   mais   que   forçasse   os
ouvidos. Também não havia qualquer ave marinha para pilhar as coisas mortas.
         Durante muitas horas, eu fiquei sentado, pensando e ruminando, no barco que estava caído
de lado e produzia um pouco de sombra à medida que o sol ia seguindo seu curso no céu. Com o
avanço   do   dia,   o   chão   foi   ficando   menos   pegajoso,   indicando   que   ficaria  seco   o   bastante   para
permitir que andasse sobre ele dentro de pouco tempo. Dormi muito pouco naquela noite e, no dia
seguinte,   preparei   um  farnel   com   água   e   comida   para   uma   excursão   terrestre   em   busca   do   mar
desaparecido e de um possível resgate.
         Na terceira manhã, verifiquei que o solo já estava bem seco e permitiria que se caminhasse
sem problemas sobre ele. O cheiro de peixe era enlouquecedor, mas eu estava concentrado demais
em coisas sérias para me importar com desgraça tão pequena, e parti ousadamente para um destino
incerto. Caminhei a duras penas durante o dia todo na direção oeste, guiado por um outeiro distante
que se destacava em altura dos outros que existiam no deserto acidentado. Acampei naquela noite,
e,   no   dia   seguinte,   segui   avançando   para   o   outeiro,   embora   aquele   objeto   parecesse   estar   pouca
coisa mais perto do que da primeira vez em que o vira. Na quarta noite, atingi a base do monte, que
se mostrou muito mais alto do que parecera à distância. Um vale interposto destacava seu perfil da
superfície geral. Exausto demais para subir, dormi à sombra da colina.
         Não   entendo   por   que   meus   sonhos   foram   tão  agitados   naquela   noite,  mas,   antes   da   curva
fantasticamente   acentuada   da   lua   minguante   ter-se   erguido   muito   alto   acima   do   lado   oriental   da
planície, acordei suando frio, decidido a não me deixar adormecer de novo. As visões como as que
havia   tido   eram   demais   para   suporta-las   de   novo.   E   sob   o   brilho   do   luar,   percebi   como   foram
insensatas as minhas caminhadas diurnas. Sem o ardor do sol escaldante, minha jornada teria-me
custado menos energia. Agora, enfim, eu me sentia perfeitamente capas de realizar a escalada que
me   havia   intimidado   ao   entardecer.   Apanhei   então   o   farnel   e   encaminhei-me   para   a   crista   da
elevação.
         Já tive a oportunidade de mencionar que a monotonia constante da planície ondulada era-me
uma fonte de impreciso horror, mas creio que meu horror ficou maior quando alcancei o cume do
monte e olhei para o outro lado, para um imenso vale ou canhão cujos recessos negros a lua ainda
não se havia erguido o suficiente para iluminar. Senti-me no limiar do mundo, olhando, por sobre a
borda, para um caos insondável de escuridão perpétua. Em meio a meu terror, perpassaram curiosas
reminiscências   do   “Paraíso   Perdido”  1   e   da   tenebrosa   ascensão   de   Satã   pelos   reinos   informe   das

trevas.
         Á medida que a Lua foi subindo ao céu, pude notar que as encostas do vale não eram tão
perpendiculares quanto eu imaginara. Saliências e afloramentos de rocha forneciam apoios perfeitos
para uma descida, além de que, cerca de trinta metros abaixo, o declive tornava-se bastante ameno.

1 “Paradise Lost ”, famoso poema do poeta inglês John Milton (1608-74).

                                                            
Impelido por um impulso que não consigo precisar, fui descendo com dificuldade pelas rochas até
parar   na  encosta   menos   íngreme   abaixo,   de   onde   fitei   as   profundezas   estígias   onde   nenhuma   luz
jamais penetrara.
         De   repente,  minha   atenção   foi   traída   por   um  objeto   enorme  e   singular   na   vertente   oposta
erguendo-se abruptamente a cerca de cem jardas à minha frente, um objeto de brilho esbranquiçado
sob os raios da Lua ascendente. De início imaginei que se tratasse de uma simples rocha gigantesca,
mas   estava   pouco   consciente   de   que   seu   contorno   e   sua   posição   não   eram   uma   obra   puramente
natural. Um exame mais de perto encheu-me de sensações que não consigo exprimir, pois, apesar de
seu   tamanho   imenso   e   sua   posição   num  abismo  que   ficara   escondido  no   fundo   do   mar   desde   a
juventude   do   mundo,   percebi   que   o   estranho   objeto   era   um   monólito   bem   moldado   cujo   vulto
maciço havia conhecido o artesanato e, talvez, a adoração de criaturas vivas e pensantes.
         Pasmo e assustado, mas não sem um certo frêmito de prazer do cientista ou do arqueólogo,
examinei      com   maior     atenção   o   meu   entorno.    A  Lua,    agora   no   zênite,   brilhava   intensamente,
misteriosamente, sobre os penhascos abissais que ladeavam o abismo, revelando um extenso curso
d’água que corria sinuoso em seu fundo até se perder de vista em ambas as direções e quase lambia
meus pés enquanto eu estava ali, parado, na encosta. Do outro lado do vale, as leves ondulações da
água     roçavam     a  base   do   ciclópeo    monólito,     sobre  cuja    superfície    eu podia     agora   distinguir
inscrições e entalhes toscos. A escrita estava em um sistema de hieróglifos que eu não conhecia e
que era diferente de tudo que eu já vira em livros, consistindo, me sua maior parte, de símbolos
aquáticos estilizados como peixes, enguias, polvos, crustáceos, moluscos, baleias, coisas assim. Era
patente que diversos caracteres representavam coisas marinhas desconhecidas do mundo moderno,
mas cujas formas, em decomposição, eu havia observado na planície erguida do oceano.
         Foram      os  entalhes    decorativos,    porém,    que  mais    me   extasiavam.      Havia   um    arranjo   de
baixos-relevos,   bem   visível   acima   da   água   interposta   por   conta   de   seu   enorme   tamanho,   cuja
temática teria invocado a inveja de Doré2. Imagino que aquelas coisas deviam supostamente ilustrar

pessoas — ao menos um certo tipo de pessoas, embora as criaturas fossem mostradas divertindo-se
como   peixes   nas   águas   de   alguma   gruta   marinha   ou   venerando   algum   santuário   em   forma   de
monólito   também   ao   que   tudo   indica   submerso.   De   seus   rostos   e   formas,   não   ouso   falar   com
detalhes; sua mera lembrança me deixa aturdido. De um grotesco além da imaginação de um Poe ou
de um Bulwer, tinham um perfil infernalmente humano apesar das mãos e apesar das mãos e pés
palmados, dos lábios chocantemente largos e flácidos, dos olhos saltados e vítreos, e outras feições
ainda menos agradáveis de se lembrar. O curioso é que pareciam ter sido cinzelados muito fora de
proporção em relação ao cenário de fundo, pois uma das criaturas era mostrada no ato de matar uma
baleia representada com um tamanho um pouco maior do que o seu, mas naquele momento eu achei
que eram apenas os deuses imaginários de alguma tribo primitiva, navegante e pescadora, alguma
tribo   cujos   derradeiros   descendentes   teriam   parecido   muitas   eras   antes   do   primeiro   ancestral   do
Homem        de  Piltdown     ou   de   Neanderthal     haver    nascido.    Extasiado    diante    daquele    inesperado
vislumbre   de   um   passado   além   da   imaginação   do   mais   ousado   antropólogo,   fiquei   ali   cismado
enquanto a Lua provocava curiosos reflexos no plácido canal à minha frente.
         Então, de repente,  eu a vi. Com uma leve agitação para indicar sua subida à superfície, a
coisa emergiu para fora s das águas escuras. Enorme, polifêmica e repugnante, ela disparou como
um monstro fabuloso de um pesadelo para o monólito, ao redor do qual arrojou seus gigantescos
brancos escamosos enquanto inclinava a cabeça horripilante, produzindo sons ritmados. Pensei ter
enlouquecido, então.
         De minha subida frenética da encosta e do penhasco, de minha delirante jornada de volta
para   o   barco   encalhado,   pouco   me recordo.   Creio   que   cantei   muito   e   ri   como  louco   quando   era
incapaz   de   cantar.   Tenho   vagas   recordações   de   uma   grande   tempestade   algum   tempo   depois   de
alcançar   o   barco.   De   qualquer   forma,   sei   que  ouvi   o   ribombar   de   trovões   e   outros   ruídos   que   a
natureza produz somente em seus humores mais terríveis.

2 Doré, Gustave - famoso ilustrador de livros. Numa carta a Rheinhart Kleiner em 16 de Novembro de 1916, Lovecraft

sita Doré como ilustrador de uma edição de “Paradise Lost”, como grande fonte de inspiração para suas criações, os
deep ones. (Nota de Transcrição)

              

         Quando   sai   das   trevas,   estava   num  hospital   de  San   Francisco,   para   onde   fora   levado   pelo
capitão de um navio americano que recolhera meu barco no meio do oceano. Em meu delírio, falei
muito, mas descobri que não deram muita atenção às minhas palavras. Meus salvadores não sabiam
nada   a   respeito   de   alguma   terra   que   houvesse   aflorado   no   Pacífico,   e   eu   não   julguei   necessário
insistir em algo que sabia que eles não poderiam acreditar. Procurei certa vez um famoso etnólogo e
o   diverti   com   perguntas   curiosas   sobre   a   antiga   lenda   filistina   de   Dagon,   o   Deus-Peixe3,   mas,

percebendo logo que ele era um racionalista incorrigível, não insisti nas perguntas.
         É durante a noite, especialmente quando a lua está muito curva e minguante, que eu vejo a
coisa. Tentei a morfina, mas a droga deu-me apenas um alívio temporário e arrastou-me para suas
garras como um escravo sem esperança. Sim, tendo escrito um relato completo para a informação
ou a desdenhosa diversão de meus semelhantes, agora pretendo acabar com tudo. Muitas vezes me
pergunto se tudo não teria passado de pura fantasmagoria — uma simples fantasia febril enquanto
eu jazia, castigado pelo sol e delirante, naquele barco descoberto depois de minha fuga do vaso de
guerra   alemão.   Isso   eu   me  pergunto,   mas   sempre   me  vem   uma   visão   terrivelmente   pavorosa   em
resposta.   Não   consigo   pensar   no   mar   profundo   sem   estremecer   com   as   coisas   inomináveis   que
podem, neste exato momento, estar arrastando-se e espojando-se em seu leito lamacento, adorando
seus   antigos   ídolos   de   pedra  e   cinzelando   à   sua   própria   e   detestável   semelhança   em   obeliscos
submarinos   de   granito   encharcado.   Sonho   com   o  dia   em   que   elas   poderão   ascender   acima   dos
vagalhões para arrastar para o fundo, com suas garras fétidas, os remanescentes de uma humanidade
debilitada, exaurida pela guerra — o dia em que a terra poderia afundar e o escuro leito do oceano
erguer-se em meio a um pandemônio universal.
         O fim está próximo. Ouço um ruído à porta, como se um imenso corpo viscoso a estivesse
forçando. Ela não me encontrará. Deus, aquela mão! A janela! A janela!

3  Dagon   é   mencionado  em   várias passagens  da   Bíblia  Sagrada,  entre   elas:  “Osp ríncipes   filisteus   reuniram-se para oferecer um grande sacrifício a Dagon, seu deus...", Juízes 16:23. (Nota de Transcrição)
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Fontes:
www.sitelovecraft.com                                                                         de3103@yahoo.com.br

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