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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

H.P.Lovecraft-O Descendente



                                                                                                                                                                   “O Descendente”         
Por  :  H.P. Lovecraft

                                          Fonte: “A Tumba... e Outras Histórias”. Ed. Francisco Alves

      SCREVER SOBRE O que o doutor me conta em meu leito de morte, meu medo mais odioso é
Eque o homem esteja errado. Suponho que deverei ser enterrado na semana que vem, mas...
          Em Londres há um homem que grita quando os sinos das igrejas tocam. Ele vive totalmente
só com seu gato malhado na Pensão Gray, e as pessoas dizem que ele é apenas um louco inofensivo.
Seu quarto está cheio de livros de tipos mais calmos e pueris, e hora após hora ele tenta se perder
em suas fracas páginas. Tudo o que ele quer da vida é não pensar. Por algum motivo o ato de pensar
lhe é muito terrível, e tudo o que possa agitar a sua imaginação o faz, fugir de como uma praga. Ele
é muito magro e enrugado, mas há quem declare que não é tão velho quanto aparenta. O medo tem
suas garras retorcidas sobre ele, e um som o fará se sobressaltar com olhos perscrutadores e a testa
coberta   de   suor.   Os   amigos   e   companheiros   ele  dispensa,   pois   não   deseja   responder   a   nenhuma
pergunta. Os que outrora o conheceram como scholar  e esteta dizem que dá pena de vê-lo agora.
Ele abandonou a todos anos antes, e ninguém sabe ao certo se ele deixou o país ou simplesmente
desapareceu de vista em alguma ruela oculta. Faz uma década agora desde que ele se mudou para a
Pensão Gray, e de onde andou ele não diria nada até a noite em que o jovem Williams comprou o
Necronomicon.
          Williams era um sonhador, e tinha apenas vinte e três anos, e quando ele se mudou para a
antiga   casa,  sentiu   uma   estranheza   e   um  hálito   de   vento   cósmico   ao   redor   do   homem   cinzento   e
envelhecido no quarto ao lado. Ele forçou sua amizade onde velhos amigos não ousavam forçar a
deles,    e  maravilhou-se     com   o  medo     que  tomava   conta    daquele    observador     e  ouvinte   triste  e
sombrio. Pois que o homem sempre observava e ouvia, ninguém podia duvidar. Ele observa e ouvia
mais com sua mente do que com os olhos e ouvidos, e lutava a cada momento para afogar alguma
coisa em sua pesquisa incessante sobre romances alegres e insípidos. E quando os sinos das igrejas
tocavam,   ele   tampava   os   ouvidos   e   gritava,   e   o   gato   cinzento   que   com   ele   morava   uivava   em
uníssono até que o reverberar da última badalada morresse ao longe.
          Mas por mais que Williams tentasse, não conseguia fazer seu vizinho falar de nada profundo
ou oculto. O velho não acompanhava seu aspecto e maneirismos, mas fingia um sorriso e um tom
suave de voz e falava febril e freneticamente de alegres trivialidades; sua voz a cada momento se
elevava   e   engrossava   até   se   partir   num   pipilante   e   incoerente   falsete.Que   seu   conhecimento   era
vasto e profundo, isso suas observações mais triviais tornavam abundantemente claro; e Williams
não se surpreendeu ao ouvir que ele freqüentou Harrow e Oxford. Posteriormente descobriu-se que
ele não era outro que não Lorde Northam, de cujo antigo castelo hereditário na costa de Yorkshire
tantas coisas estranhas se contavam; mas quando Williams tentou falar do castelo, e de sua reputada
origem romana, ele se recusou a admitir que houvesse nele qualquer coisa de incomum. Até chegou
a   se   arrepiar   quando   o   assunto   das   supostas   criptas   subterrâneas,   escavadas   da   rocha   sólida   que
abunda no Mar do Norte foi trazido à tona.
          Assim as coisas ocorreram até a noite passada, quando Williams levou para casa o infame
Necronomicon, do árabe louco Abdul AlHazred. Ele havia ouvido falar do temível volume desde
seus dezesseis anos, quando seu crescente amor pelo bizarro o levara a perguntar questões estranhas
a   um   velho   livreiro   na  Rua   Chandos;     e  ele  havia   sempre    se  perguntado    por   que   os  homens
empalideciam quando dele falavam. O velho livreiro lhe havia dito que apenas cinco cópias haviam
sabiamente sobrevivido aos editos chocados dos sacerdotes e juízes contra ele, e que todos estavam
encerrados com cuidado terrível por pessoas que haviam se aventurado a começar uma leitura do
negro livro odioso. Mas agora, finalmente, ele havia não somente encontrado uma cópia acessível

∗  QUATRO      FRAGMENTOS        (Azathot,  The  Descendent,  The Book,   The   Thing  Under  in  the  Moonlight):  estes

fragmentos descobertos entre os papéis de Lovecraft são presumivelmente suas tentativas de se estabelecer em formas
rudimentares, preparando-se para expansão em histórias mais longas, alguns de seus sonhos. Nenhum deles jamais foi
aumentado. Chaves para as fontes de sonhos destes fragmentos podem ser encontradas em cartas escritas por Lovecraft.

                                                           1

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mas adquirido a um preço ridiculamente baixo. Foi na loja de um judeu, nas vizinhanças esquálidas
do Mercado Clare, onde lê já havia compra coisas estranhas antes, e quase imaginava o velho levita
recurvado   e   sorridente   entre   fiapos   de   barba   quando   fez   a   grande   descoberta.   A   pesada   capa   de
couro com o cadeado de aço estava tão proeminentemente visível, e o preço era tão absurdamente
baixo.
          O   único   vislumbre   que   ele   teve   do   título   foi   suficiente   para   fazê-lo   delirar,   e   alguns   dos
diagramas dispostos no vago texto em latim excitavam as mais tensas e inquietantes lembranças de
seu   cérebro.   Ele   sentia   que   era   muito   necessário   levar   a   coisa   poderosa   para   casa   e   começar   a
decifrá-la,   e   levou-a   da   loja   com   tamanha   precipitação   que   o   velho   judeu   riu   perturbadoramente
atrás dele. Mas quando finalmente estava a salvo em seu quarto, descobriu que a combinação do
livro negro e do idioma adulterado era demais para seus poderes de lingüística, e relutantemente
pediu ajuda de seu estranho amigo amedrontado para decifrar o distorcido latim medieval. Lorde
Northam conversava banalidades com seu gato malhado, e reagiu violentamente quando o jovem
entrou. Então viu o volume e tremeu violentamente, e desfaleceu por completo quando Williams
pronunciou   o   título.   Foi   quando   recuperou   os   sentidos   que   ele   contou   sua   história;   contou   sua
fantástica ficção de loucura em frenéticos sussurros para que seu amigo fosse rápido em queimar
livro amaldiçoado e espalhar bem distante suas cinzas.
          Deve haver, Lorde Northam sussurrou, deve haver alguma coisa errada no começo; mas isso
nunca teria chegado a um fim se ele não tivesse ido tão longe. Ele era o décimo-nono barão de uma
linhagem cujo início ia desconfortavelmente distante no passado — inacreditavelmente distante, se
a   vaga   tradição    for  considerada,     pois  havia   histórias   de   família   sobre   uma    descendência      que
remonta      a  tempos    pré-saxônicos,     quando     um   certo   Luneu    Gabínio     Capito,   tribuno   militar   da
Terceira     Legião     Augusta     então    estacionada     em    Lindum,     na  Britânia     Romana,      havia    sido
sumariamente expulso de seu comando por participação em certos rituais que não tinha ligação com
qualquer religião conhecida. Gabínio havia, segundo corria o rumor, entrado na caverna da encosta,
onde estranhas pessoas se reuniam, e feito o Sinal dos Antigos na escuridão; estranhas pessoas que
os Bretões não conheciam, salvo por medo, e que  foram  os   últimos   sobrevivente   de   uma   grande
terra   a   oeste   que   havia   afundado,   deixando   apenas  as   ilhas   com   os   círculos   e   templos   dos   quais
Stonehenge era o maior. Não havia certeza, claro, na lenda, de que Gabínio houvesse construído
uma fortaleza impregnada sobre a caverna proibida e fundado uma linguagem que pictos e saxões,
daneses   e   normandos   foram  incapazes   obliterar;   ou na   suposição   tácita   de   que   daquela   linhagem
surgira    o  bravo    e  companheiro      tenente   do   Príncipe    Negro    que   Eduardo     III  tornara  Barão    de
Northam.      Essas   coisas   não   eram   certas,   mas   eram   contadas     com   freqüência;     e  em   verdade    o
trabalho em pedra da Fortaleza Northam parecia de forma alarmante como a alvenaria da Muralha
de Adriano. Em criança, Lorde Northam tivera  sonhos peculiares quando dormia nas partes mais
velhas do castelo, e adquirira um constante hábito de vasculhar na memória cenas semi-amorfas e
padrões   de   impressões   que   não   formavam   parte  de   sua   experiência   acordado.   Ele   se   tornou   um
sonhador      que   descobriu    a  vida   mansa    e  insatisfatória;   um    pesquisador     de  reinos   estranhos    e
relacionamentos um dia familiares, mas que não se encontram em nenhum lugar das regiões visíveis
da Terra.
          Preenchido com uma sensação de que nosso mundo tangível é apenas um átomo num vasto e
ominoso   material,   e   que   demônios   ocultos   pressionam  e   permeiam  a   esfera   do   conhecido   a   cada
ponto, Northam na juventude e nos primeiros anos de fase adulta secou as fontes da religião formal
e dos mistérios ocultos. Em nenhuma parte, entretanto, pôde ele encontrar paz e contentamento; e, à
medida que crescia, a paralisia e as limitações da vida tornavam-se mais e mais enlouquecedoras
para ele. Durante os anos 90 ele estudou o satanismo, e em todos os momentos devorou avidamente
qualquer doutrina ou teoria que parecesse prometer fuga das visões fechadas da ciência e das tolas
leis imutáveis da natureza. Livros como o relato quimérico de Ignatius Donnely sobre Altântida, e
uma dúzia de obscuros precursores de Charles Fort   o   fascinavam  com   suas   divulgações.   Viajava
léguas para acompanhar uma história furtiva de vilarejo de maravilhas anormais, e um dia foi ao
deserto   da   Arábia   para   procurar   uma   Cidade   Sem   Nome   por relatos   vagos,   que   nenhum   homem
havia visto jamais. Dentro dele se elevava a fé tantalizante de  que   em  alguma   parte   existiria   um

                                                            2

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portal, que se encontrado o admitiria livremente àquelas profundezas extremas cujos ecos soavam
tão fracos nos fundos de uma memória. Poderia estar no mundo visível, ainda que podesse também
estar em sua mente e em sua alma. Talvez ele mantivesse no interior de seu próprio cérebro semi-
inexplorado   aquela   ligação   críptica   que   o   despertaria   a   vidas   ancestrais   e   futuras   em   dimensões
esquecidas; que o ligariam às estrelas, e aos infinitos e eternidades além delas...
(circa 1926)
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Fontes:

www.sitelovecraft.com                                                                       de3103@yahoo.com.br

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