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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

H.P.Lovecraft-Celephais



                                                                                  
     “Celephais” – H.P. Lovecraft

                                                                                          Tradução: Renato Suttana



  Num sonho Kuranes viu a cidade no vale, e a costa marinha mais adiante, e o pico nevado
         elevando-se sobre o mar, e as galeras pintadas com cores festivas que saíam do porto em
  busca de regiões distantes onde o mar encontra o céu. Foi num sonho também que recebeu o
  nome de Kuranes, pois em vigília era chamado de outra maneira. Talvez fosse natural para ele
  sonhar com um novo nome, pois era o último de sua família, a viver solitário entre os milhões de
  Londres, de modo que não havia muitos para lhe falar e lembrar quem ele tinha sido. Perdera seu
  dinheiro     e  suas   terras   e  não   se  incomodava      com   o    modo    de   ser  das   pessoas    à  sua   volta,
  preferindo sonhar e escrever sobre seus sonhos. Riam-se aqueles para quem mostrava o que tinha
  escrito;   e   então   após   algum  tempo   passou   a   guardar consigo seus escritos, até que finalmente
  parou de escrever. Quanto mais se retirava do mundo ao redor, mais maravilhosos se tornavam
  seus   sonhos;   e   teria   sido   fútil   tentar   descrevê-los   no   papel.   Kuranes   não   era   moderno   e   não
  pensava como outros que também escreviam. Enquanto estes se esforçavam para despir a vida de
  suas míticas vestes bordadas e mostrar em nua fealdade a coisa suja que é a realidade, Kuranes
  buscava   somente   a   beleza.   Quando   a   verdade   e   a   experiência   falhavam   em   revelá-la,   ele   a
  buscava na fantasia e na ilusão, e  a   encontrava   em  sua   própria   soleira,  em  meio   às   memórias
  nebulosas de histórias e sonhos da infância.

  Poucas   pessoas   sabem   que   maravilhas   estão   abertas   para   elas   nas   histórias   e   nas   visões   da
  juventude,      pois   enquanto     somos     crianças    ouvimos      e  sonhamos,       formulamos       pensamentos
  incompletos, mas, quando homens, ao tentar rememorá-los, estamos secos e prosaicos devido ao
  veneno da vida. Porém alguns de nós despertarão na   noite   em  meio   a   estranhos   fantasmas   de
  colinas   encantadas   e   de   jardins,   de   fontes   que   murmurejam   ao   sol,   de   áureos   penhascos   que
  contemplam         mares    rumorosos,      de   planícies    que    se   estendem     até   os   limites   de   cidades
  adormecidas   de   bronze   e   de   granito,   e   da   penumbrosa   companhia   de   heróis   que   cavalgam
  brancos corcéis ajaezados na orla de densas florestas; e então conhecemos que olhávamos para
  trás, através de portões de marfim, para aquele mundo de encantamento que foi nosso antes que
  nos tornássemos sábios e infelizes.

  Muito subitamente é que Kuranes descobriu seu velho mundo de infância. Tinha estado a sonhar
  com a casa onde havia nascido – a grande casa de pedra coberta por heras, onde treze gerações
  de seus ancestrais tinham vivido e onde ele esperara morrer. Havia luar, e ele se evadira para a
  fragrante   noite   de   verão,   através   dos   jardins,  descendo   pelos   terraços,   para   além   dos   grandes
  carvalhos do parque e ao longo da comprida estrada branca que conduzia ao vilarejo. O vilarejo
  parecia muito velho, carcomido nas bordas como uma lua minguante, e Kuranes se perguntava
  se   os   grandes   tetos   pontiagudos   das   casas   ocultariam   o   sono   ou   a   morte.   Nas   ruas   brotavam
  longas espadas de grama, e os vidros das janelas de cada lado estavam quebrados ou miravam
  com fixidez. Kuranes não se demorou, mas avançou como se convocado em direção a alguma
  meta.   Não   se   atrevia   a   desobedecer   à   convocação,   por   receio   de   que   pudesse   revelar-se   uma
  ilusão, tal como as urgências e aspirações da vida desperta, que não conduzem a meta nenhuma.
  Então foi levado por uma viela que conduzia da aldeia até os despenhadeiros do canal e chegou

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  ao   final   das  coisas,   junto   ao  precipício    e  ao   abismo   onde    toda   a  aldeia  e  todo   o  mundo
  despencavam abruptamente no vazio do infinito sem ecos e onde até mesmo o céu à sua frente
  era   vazio    e  mal   iluminado     por   uma    lua  embaçada      e  pelas   estrelas   bruxuleantes.     A  fé  o
  impulsionara por cima do precipício e em direção ao golfo, onde ele vogara, vogara, vogara –
  para   muito   além   dos   sonhos   disformes,   não     sonhados,   de   esferas   baçamente   luminosas   que
  podem ter sido sonhos parcialmente sonhados, e de  coisas aladas que gargalhavam e pareciam
  escarnecer dos sonhadores de todos os mundos. Então uma fenda pareceu abrir-se na escuridão à
  sua   frente,   e   ele   viu   a   cidade no   vale   cintilando   radiosa   bem   abaixo,   muito   abaixo,   sobre   um
  fundo de mar e céu e uma montanha cujo pico a neve recobria na proximidade da costa.

  Kuranes despertara no exato momento em que vislumbrou a cidade; no entanto soube por um
  rápido olhar que não se tratava de outra senão de Celephais, no Vale de Ooth-Nargai, para além
  das    Colinas   Tanarianas     onde    seu  espírito   habitara   pela   eternidade    de  uma    hora   num   certo
  entardecer de verão há muito passado, quando se esquivara de sua babá e permitira que a brisa
  morna do mar o embalasse até o sono, enquanto observava as nuvens de uma falésia próxima ao
  vilarejo. Ele protestara então, quando o encontraram, despertaram e levaram para casa, pois no
  instante    em    que   o  chamaram       estava   prestes   a  zarpar    numa    galera   dourada     para   aquelas
  fascinantes   regiões   onde   o   mar   encontra   o   céu.   E   agora,   do   mesmo   modo,   se   ressentia   de
  despertar, pois havia encontrado sua cidade fabulosa após quarenta anos de exaustão.

  No entanto três noites depois Kuranes retornou a Celephais. Como antes, sonhou primeiro com o
  vilarejo que se achava adormecido ou morto e com o abismo pelo qual se deve descer flutuando
  silenciosamente; então apareceu de novo o precipício, e ele avistou os minaretes coruscantes da
  cidade e viu as galeras graciosas se aproximando para ancorar no cais azul, e viu as copas das
  árvores-gingko do Monte Aran estremecendo ao sopro da brisa marinha. Mas desta vez não foi
  arrebatado e, como uma criatura alada, foi depositado gradualmente sobre a encosta coberta de
  verde até que seus pés repousaram com suavidade sobre o relvado. Ele retornara, finalmente, ao
  Vale de Ooth-Nargai e à esplêndida cidade de Celephais.

  Colina abaixo, por entre a grama olorosa e as flores brilhantes, Kuranes caminhou, atravessando
  o borbulhante Naraxa por uma pequena ponte de madeira onde gravara seu nome havia muitos
  anos, e através do bosque murmurante até a grande ponte de pedra junto  ao portão da cidade.
  Tudo estava como antes; nem as paredes de mármore se descoloriram, nem as estátuas de bronze
  polido que as encimavam tinham se embaciado. E Kuranes percebeu que não teria de estremecer
  com   receio   de   que   as   coisas   que   sabia   se   desvanecessem,   pois   até   as   sentinelas   no   alto   dos
  baluartes   eram   as   mesmas   e   estavam   tão   jovens   quanto   na   época   em   que   se   lembrava   delas.
  Quando   ele   entrou   na   cidade,   além   dos   portões   de   bronze   e   sobre   o   calçamento   de   ônix,   os
  mercadores   e   cameleiros   o   saudaram   como   se       ele   nunca   tivesse   se   ausentado;   e   o   mesmo
  aconteceu no templo turquesa de Nath-Horthath, onde os sacerdotes coroados de orquídeas lhe
  disseram que não existe tempo em Ooth-Nargai, mas apenas juventude perpétua. Então Kuranes
  caminhou pela Rua dos Pilares até a muralha junto ao mar, onde se ajuntavam comerciantes e
  marujos   e   homens   estranhos   provenientes   das   regiões   onde   o   mar   encontra   o   céu.   Ali   ele   se
  demorou,   olhando   por   sobre   o   porto   luminoso   onde   as   ondas   faiscavam   debaixo   de   um   sol
  desconhecido e por onde passavam deslizando as galeras dos lugares distantes. E olhou também
  para o Monte Aran, que se elevava majestoso da costa, suas faldas mais baixas verdejantes de
  árvores trêmulas e seu ápice branco erguido para o céu.

  Mais do que nunca Kuranes desejou navegar numa galera até os lugares distantes sobre os quais
  ouvira contar tantas histórias bizarras e procurou de novo o capitão que aquiescera em conduzi-
  lo havia tantos anos. Encontrou o homem – Athib – sentado sobre a mesma arca de especiarias
  sobre a qual se sentara antes, e Athib parecia não notar que tanto tempo se passara. Então ambos
  remaram para uma galera no cais, e, dando ordens aos remadores, começaram a navegar para o

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  agitado   Mar   Cerenariano,   que   conduz   ao   céu.   Por  vários   dias   eles   deslizaram   sobre   a   água
  ondulante, até que finalmente chegaram ao horizonte onde o mar encontra o céu. Aqui a galera
  não repousou de todo, pois flutuou com facilidade no azul do céu por entre nuvens lanosas que
  se tingiam de roxo. E, muito para além da quilha, Kuranes pôde ver as terras estranhas e os rios e
  as   cidades    de   inigualável    beleza,    a  estender-se    indolentemente       ao   sol  que   nunca    parecia
  esmorecer ou desaparecer. Por fim, Athib lhe disse que sua jornada estava para terminar e que
  logo eles entrariam no porto de Serannian, a cidade de mármore rosado em meio às nuvens, que
  está construída naquela costa etérea onde o vento oeste flui para o céu; mas, à medida que as
  mais altas torres esculpidas da cidade se tornavam visíveis, um som ecoou no espaço, e Kuranes
  despertou em seu sótão londrino.

  Por muitos meses subseqüentes Kuranes buscou em vão a maravilhosa cidade de Celephais com
  suas    galeras    destinadas     ao   céu.   Embora     seus    sonhos     o  conduzissem       a   muitos    lugares
  deslumbrantes   e   inauditos,   ninguém   daqueles   a  quem   falou   pôde   lhe   dizer   como   achar   Ooth-
  Nargai, que fica para além das Colinas Tanarianas. Numa noite ele saiu voando sobre montanhas
  escuras     onde   brilhavam     algumas     fogueiras    solitárias  e  vagas,  muito     distanciadas     umas    das
  outras, e onde havia estranhos, felpudos rebanhos cujos líderes portavam cincerros, e na parte
  mais    selvagem     da   região   montanhosa,      tão  longínqua     que   raros   homens     a  teriam   visto,  ele
  encontrou   uma   muralha   ou   passadiço   de   pedra   antiqüíssimo   que   ziguezagueava   ao   longo   das
  cumeadas e dos vales, gigantesco demais para ter sido edificado por mãos humanas e de tamanha
  extensão   que   nenhum   de   seus   extremos   poderia   ser   visto.   Para   além   daquele   muro,   na   aurora
  cinzenta,   ele   alcançou   uma   terra  de   jardins   singulares   e   de   cerejeiras,   e   quando   o   sol   surgiu
  vislumbrou       uma    tal  beleza   de   flores  vermelhas      e  brancas,    folhagens    verdes    e  gramados,
  caminhos brancos, córregos adamantinos, pontes adornadas e pagodes de teto vermelho, que por
  um momento, imerso em extrema delícia, esqueceu Celephais. Mas se lembrou dela outra vez,
  quando      desceu    por  uma    senda    branca   em    direção   a  um    pagode    de   teto  vermelho,     e  teria
  perguntado às pessoas dessa terra a respeito dela, não tivesse descoberto que ninguém habitava
  ali além de pássaros e abelhas e borboletas. Numa outra noite, Kuranes subiu pela espiral de uma
  escadaria úmida e interminável, alcançando a janela de uma torre que se abria para uma planície
  e um rio imponentes que a lua cheia iluminava; e na cidade silenciosa que se estendia a partir da
  margem do rio ele pensou descobrir certo aspecto ou arranjo que conhecera antes. Teria descido
  e   perquirido   o   caminho   até   Ooth-Nargai,   não   tivesse   uma   temível   aurora   crepitado   de   algum
  lugar remoto além do horizonte, exibindo a ruína e a antigüidade da cidade e a estagnação do rio
  juncoso   e   a   morte   que   se   espraiava   sobre   aquela   terra,   como   se   espraiara   desde   que   o   Rei
  Kynaratholis retornara de suas conquistas para se deparar com a vingança dos deuses.

  Assim Kuranes procurou embalde pela maravilhosa cidade de Celephais e por suas galeras que
  navegam para Serannian no céu, testemunhando muitas maravilhas nesse meio tempo e certa vez
  escapando por pouco do sumo sacerdote que não deve ser descrito, que usa uma máscara de seda
  amarela sobre a face e que vive inteiramente só num monastério de pedra pré-histórico, em meio
  ao frio platô do deserto de Leng. Com o tempo ele se tornou tão impaciente com os intervalos
  vazios do dia que começou a comprar drogas a fim de aumentar os períodos de sono. O haxixe
  foi de grande valia e certa vez o enviou a uma parte do espaço onde não existe a forma, mas
  onde   gases   fosforescentes   estudam  os   segredos   da   existência.   E   um   gás   de   tonalidade   violeta
  asseverou que essa parte do espaço se situava fora daquilo que ele costumava chamar de infinito.
  O gás nada ouvira acerca de planetas e organismos antes, mas identificou Kuranes meramente
  como   alguém   que   tivesse   vindo   do   infinito   onde  existem   a   matéria,   a   energia   e   a   gravitação.
  Kuranes estava agora aflito por retornar a Celephais que os minaretes guarneciam, e aumentou
  suas   doses   de   entorpecentes;   entretanto   já   lhe   minguara   o   dinheiro,   de   modo   que   não   podia
  comprar drogas. Por fim, num verão, viu-se expulso de sua mansarda e vagueou a esmo pelas
  ruas, atravessando a ponte até um lugar onde as casas pareceram mais e mais esguias. E foi ali

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  lhe adveio a completude e que o cortejo de cavaleiros provenientes de Celephais acorreu ao seu
  encontro para escoltá-lo por lá para sempre.

  Eram garbosos os cavaleiros – montados em cavalos ruões e a envergar armaduras polidas com
  tabardos   de   fios   de   ouro   elegantemente   entretecidos.   Tão   numerosos   pareciam,   que   Kuranes
  quase os confundiu com um exército, mas tinham sido enviados em honra dele, desde que fora
  ele quem criara Ooth-Nargai em seus sonhos, razão pela qual seria para sempre aclamado como
  seu deus principal. Cederam, pois, a Kuranes um cavalo e o postaram à cabeça do grupo; e todos
  cavalgaram altivamente pelas terras baixas de Surrey e mais além, em direção às regiões onde
  Kuranes e seus ancestrais haviam nascido. Foi estranho, mas enquanto os cavaleiros avançavam
  tinha-se   a   impressão   de   que   retornavam   no  Tempo,   pois   quando   quer   que   cruzassem   algum
  vilarejo ao crepúsculo viam somente casas e aldeões como aqueles que Chaucer e outros homens
  antes dele teriam visto, e às vezes avistavam cavaleiros montados, seguidos por pequenos grupos
  de    escudeiros.    Quando      escureceu,    cavalgaram      mais    depressa,    até  que   se  puseram      a  flutuar
  estranhamente        como    se   voassem     nos   ares.   Próximo     da   aurora   alcançaram      uma    aldeia   que
  Kuranes   conhecera   viva   em  sua   infância   e   que parecia   adormecida   ou   morta   em  seus   sonhos.
  Estava   viva   agora,   e   alguns   aldeões   madrugadores   fizeram   reverência   quando   os   cavaleiros
  trotaram   pela   rua   e   penetraram   pela   senda  que   conduz   ao   abismo   dos   sonhos.   Anteriormente
  Kuranes entrara nesse abismo apenas durante a noite e se perguntava que aspecto teria à luz do
  dia;   de   modo   que   observou   com   ansiedade   quando  a   coluna   se   aproximou   de   sua   borda.   No
  instante   em   que   subiram   pelo   terreno   até   o precipício,   uma   fosforescência   dourada   surgiu   de
  algum lugar a oeste e ocultou toda a paisagem sob drapejamentos cintilantes. O abismo era um
  caos   fervilhante   de   esplendores róseos   e   cerúleos,   e   vozes   invisíveis   cantavam   com   exultação
  enquanto o cortejo cavalheiresco saltava sobre a borda e flutuava graciosamente para além das
  nuvens rútilas e das coruscações prateadas. Numa descida sem fim os cavaleiros pairaram, suas
  montarias   trotando   no   éter   como  se   sobre   areias   douradas;   e   então   os   vapores   luminosos   se
  afastaram para revelar um brilho maior, o brilho da cidade de Celephais, com a costa marinha
  mais adiante e o pico nevado elevando-se sobre o mar e as galeras pintadas de cores festivas que
  saíam do porto em busca de regiões distantes onde o mar encontra o céu.

  E    a  partir  de   então    Kuranes     reinou    sobre   Ooth-Nargai       e  sobre   todas    as  regiões    oníricas
  adjacentes,   e   teve   sua   corte   em   Celephais   e   na  enevoada   Serannian.   Ainda   reina   ali   e   reinará
  venturoso      para   sempre,     mesmo      que   ao   pé   das   falésias   de   Innsmouth      as  ondas    do   canal
  brincassem zombeteiras com o corpo de um vagabundo que atravessou aos tropeções o vilarejo
  semideserto   ao   amanhecer;   brincassem   zombeteiras   e   o   atirassem   sobre   os   rochedos   junto   às
  Trevor     Towers,     cobertas    de   hera,   onde    um    obeso    milionário     da  cervejaria,    especialmente
  repulsivo, desfruta da comprada atmosfera de uma nobreza extinta.

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Fontes:http://www.arquivors.com.

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